sábado, 26 de fevereiro de 2011

Sobre: “O papel do professor como consumidor crítico das TICs na dinamização do processo de ensino-aprendizagem”.

O campo educacional vive um processo de reformulação favorecido pela incorporação de tecnologias de informação, como ensino à distância e metodologias de educação continuada, em que se destacam a descentralização e a individualização do processo ensino-aprendizagem. Mas esse processo precisa ser aceito, entendido e só então sua utilização é viabilizada. Um bom exemplo de que não basta ter acesso às novas tecnologias, mas aprender a usá-las pedagogicamente, é o caso das escolas francesas na década de 80. Apesar dos vultuosos recursos, das escolas equipadas e dos professores formados, os programas fracassaram. Ao procurar a imagem da modernização, o governo não obteve nada além de imagens, não houve a condução de um projeto político em que se analisassem as transformações em andamento e os novos modos de constituição e transmissão do saber (Lévy, 1993).
O professor consumidor crítico das TICs deve considerar que no contexto atual do capitalismo, o campo educacional aparece como uma nova fatia de mercado promissora. Muitas tecnologias, mesmo fundamentadas em teorias psicopedagógicas inovadoras (como construtivismo, sociointeracionismo e interculturalismo), não conseguem romper tendências enraizadas na instituição escolar. A questão fundamental não estaria tanto na modalidade do ensino oferecido-se em presença ou à distância, mas, sobretudo na capacidade de os sistemas ensinantes inovarem quanto aos conteúdos e às metodologias de ensino, de inventarem novas soluções para os problemas antigos e também para aqueles problemas novíssimos gerados pelo avanço técnico nos processos de informação e comunicação, especialmente aqueles relacionados com as novas formas de aprender (BELLONI, 2002).
Trata-se então de transcender a usual abordagem instrumental das tecnologias de informação no processo de ensino-aprendizagem (mediações tecnologia-professor-aluno) para os processos institucionais de pesquisa, métodos de investigação, ensino, formação de redes e gestão. Essa perspectiva acrescenta outras possibilidades à forma de pensar a modelagem dos conteúdos educacionais, tradicionalmente limitados a cada escola, disciplina ou curso, segundo linhas programáticas departamentais, expertise de professores e pesquisadores.
Um exemplo interessante do uso de tecnologia na mediação do processo de ensino-aprendizagem foi o uso do correio eletrônico na Universidade Federal do Ceará. O correio eletrônico, que é uma aplicação popular da Internet, é um incentivo para os professores integrarem esse recurso tecnológico em suas disciplinas, e pode ser utilizado como uma técnica para aprimoramento do ensino-aprendizagem. Algumas disciplinas de cursos de graduação e de mestrado da Universidade Federal do Ceará vêm contemplando os alunos matriculados com a utilização do correio eletrônico, com o propósito de melhorar o intercâmbio das informações entre os alunos e entre estes e os professores. Em sua pesquisa, Nascimento e Trompiere Filho (2002) avaliaram a opinião dos alunos sobre o uso do correio eletrônico e o sucesso instrucional proporcionado pela sua utilização. Aplicaram um instrumento, contendo duas escalas de opinião, em uma amostra aleatória de 123 alunos de disciplinas que usam o correio eletrônico. Observou-se que, apesar da ocorrência de o grau de concordância com a utilização do correio eletrônico como recurso didático ter sido baixo (27,6% dos entrevistados), por outro lado, 72,5% dos respondentes apresentaram alto nível de concordância acerca do efeito desse tipo de técnica sobre o sucesso na aprendizagem e na melhoria da troca de experiências entre os alunos e entre estes e os professores. Em relação aos benefícios, verificou-se a ocorrência de redução nas atividades burocráticas em sala de aula, realização de chamadas, organização de grupos de trabalho, entre outras atividades.
Diante dos aspectos discutidos no decorrer da disciplina Novas Tecnologias da Informação e Comunicação e o Ensino Superior, dos textos trabalhados e dos artigos pesquisados, evidenciou-se que não basta aos professores e aos alunos ter acesso às novas tecnologias, mas que enfoque deve ser a utilização pedagógica destas na mediação da produção do conhecimento.    



BELLONI M. L. Ensaio sobre a educação à distância no Brasil. Educação & Sociedade, Campinas, v. 78, p. 117-142, 2002.

LÉVY P. As tecnologias da inteligência – o futuro do pensamento na era da informática. São Paulo: Editora 34, 1993.

NASCIMENTO, R B do; TROMPIERI FILLHO, N. Correio eletrônico como recurso didático no ensino superior: o caso da Universidade Federal do Ceará. Ciência da Informação, Brasília, v.31, n.2, p. 86-97, 2002.
Mara Lina
Walma Rabelo
Ludmilla Cintra
Ludmilla Rabelo

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